O peso das palavras

21:00 Unknown 2 Comments


Alguns dias atrás, me deparei com uma situação muito desagradável. E isso me fez refletir muito sobre as coisas que estão a nossa volta. Na ocasião em especial, sofri uma "brincadeira" sobre o fato de ser gorda. Até aí "tudo bem". Mas, depois do ocorrido, fiquei pensando... Será que essa pessoa tinha o direito de falar isso? Será que eu realmente devo achar graça disso e relevar? Afinal, é apenas uma brincadeira. Será que devo considerar isso normal? NÃO, NÃO E NÃO.




Mas por quê esse tipo de coisa nos afeta? Na verdade, eu não sei. Mas costumo pensar que as pessoas, geralmente, só levam em conta o quanto nós pesamos. Sem considerar nossos sentimentos, ouvimos palavras que, podem ferir mais do que uma agressão física. Não concorda? Vou te mostrar um exemplo real:"Você gosta dessa menina? Eca, ela é gorda!". Garanto que isso não é difícil ouvir. Eu já ouvi isso algumas vezes. Ah, já ouvi também: "Tu acha mesmo que vou ficar com ela? Ela é gorda". Tudo isso me faz pensar o motivo disso. Somos pessoas normais. A única diferença é o peso. Mas por quê o fato de ser diferente incomoda tanto as pessoas? E qual é a razão para sermos discriminados?





Eu não sei ao certo. Mas vou tentar explicar o que está por trás, aquilo que muitas vezes está mascarado e que não conseguimos ver.


Bom, eu sinto que há uma pressão em seguir um padrão. Não se engane em achar que isso só é provocado por desconhecidos. Muitas vezes, dentro da própria família sofremos por conta do peso. Nós somos observados o tempo todo: desde o que comemos, a quantidade das porções e as mudanças corporais que obtivemos ao longo da vida. Acho que não é difícil pensar em quantas vezes você deixou de fazer algo com medo dos que as pessoas iriam pensar ou comentar. 






 Durante um bom tempo, tentei esconder o que eu era para agradar outras pessoas. Em especial os meninos. Mudanças mais sutis como, manter-me ereta para não evidenciar o famoso "buchinho" ou até mais drásticas como, tentar perder x quilos para eu fulano comece a olhar pra mim ou que seja mais legal comigo. Puro engano. A maior burrice do mundo é tentar mudar por alguém que não gosta de como você é. E eu só aprendi isso com o tempo.




Não posso mentir em dizer que há uma certa preocupação, e um real cuidado. Mas não esqueça que, disfarçados de conselhos, as pessoas dizem palavras indelicadas e fortes. Às vezes, alegando que elas estão falando aquilo para ajudar você, utilizando como justificativa sua saúde ou aparência. Mas deixa eu te perguntar: Quem disse que pedimos opinião ou ajuda? Pois é, ninguém! Pessoas costumam julgar pelo que conseguem ver, mas que, muitas vezes não é verdade. Acho difícil alguém questionar uma pessoa magra sobre como anda a saúde dela ou dizer que ela precisa parar de comer assim, pois isso faz mal. Me poupe



"Tudo o que eu quero é poder relaxar e não ter medo do que os outros possam comentar. Quero olhar no espelho e não ver dobrinhas mas sim sorrisos. Quero me sentir livre pra fazer o que eu quiser sem pensar em quão gorda naquela foto eu vou ficar. Quero ser feliz sem dar satisfação, pra mim ou pra você.” Manu Cunhas, 27 anos, criadora do projeto Outras Meninas.


Mas sabe o que eu acho estranho?  Ninguém nesse mundo é completamente igual. Todos nós temos características, que podem ser parecidas, mas que são diferentes, pois fazem parte de um conjunto completo chamado de ser. Diante disso, é impossível esperar que as pessoas sigam um padrão universal. Temos perfis e particularidades como, cabelo, cor de pele, olhos, nariz, boca, orelhas, corpo e organismo. 





 Olhando assim, faz sentido, não é?  Mas a realidade é outra! Na vida real, as pessoas são julgadas e sofrem preconceito por serem diferentes. 



Tentando ampliar essa discussão e mostrar que esses tipos de comentários, sejam sobre peso ou qualquer outro aspecto que seja diferente do padrão podem aborrecer e traumatizar. Sim, traumatizar. Acha que não? Deixa eu te contar a história de algumas pessoas que são próximas a mim. É impressionante as marcas deixadas por esse tipo de comportamento. Comportamento, esse, que não é culpa da gente e nem justifica nenhuma ação que visa humilhar, descriminar ou simplesmente brincar. Tenho certeza que depois que você ler, vai entender que é muito mais profundo do que parece, e que uma "simples" brincadeira pode deixar marcas que serão levadas por toda uma vida. 



Bruna Pessôa, 20 anos
 “Uma coisa física que me incomoda são as espinhas, e eu tenho várias, desde os 15 anos. Sempre vão e voltam. E isso sempre me incomodou e não dá pra disfarçar. Eu não gosto de maquiagens, mas, muitas vezes, eu prefiro me maquiar para sair de casa, pois eu sei que as pessoas vão falar. Mesmo algumas pessoas falando pra mim que isso é besteira, mesmo sem elas falarem, eu noto que elas olham para o meu rosto. Mesmo durante o processo de tratamento, as espinhas permanecem lá e é algo que não vai sair fácil. O tratamento pode nem dar certo. Então, eu tenho uma luta para conseguir aceitar isso, ficar bem e com a auto estima boa, porque faz parte de mim. Mas, às vezes, os comentários me fazem lembrar que eu acho isso algo feio e que incomoda. Não ligo para brincadeiras, mas  ver as pessoas comentando e olhando às vezes de forma inconveniente, ligo. Mas, tem gente que entra em problemas sérios, eu não cheguei nessa fase porque abstraio, mas essas coisas mexem com ‘você’. Acredito que as pessoas devem parar, pois acham que isso não mexe com a pessoa, mas mexe sim. É um defeito que incomoda a pessoa, e falam como se eu não olhasse no espelho todo dia. Às vezes você ri do problema para saber como passar por ele, mas há formas de rir e de rir.”





Igor Santos Vélez, 20 anos
"Quando eu tinha por volta dos meus 10 anos, por nunca ter gostado de esportes ou de mexer, eu engordei e meus colegas de classe tiravam brincadeiras comigo e me colocavam apelidos. Na época isso não me afetou, não que eu tivesse percebido, até minha adolescência eu comecei a desenvolver problemas por me achar gordo, eu passava dias sem comer, e comi algo a cada três ou quatro dias para o meu corpo não se acostumar com a falta de alimento. Depois eu comecei a forçar o vômito quando eu comia, mesmo sabendo que aquilo estava me fazendo mal eu continuei porque eu precisava me sentir magro, me sentir aceito em algum lugar, na minha cabeça a magreza ia me fazer ter sucesso. Até que eu me machuquei e percebi que se continuasse fazendo aquilo eu iria acabar em uma cama de hospital".



                                               
Edson Mota Jr, 24 anos
    "O fonoaudiólogo me disse, quando pequeno, que eu tinha um caso de ansiedade. Apesar de tentar atenuar a situação, nunca consegui, de fato, superar isso. Gaguejo principalmente quando tentar falar palavras com a letra "P" e "D". E isso se torna um obstáculo imenso pra mim. Sofria (e sofro) com  brincadeiras. Penso, às vezes, que as pessoas imaginem que a minha situação é natural. Mas não é. E não tem graça. Já ouvi piadas do tipo até de professores. E supero isso, desde os meus 15 anos, de um modo bastante irreverente. Quem me vê brincando com tudo e com todos não imagina o que eu já passei. E assim eu vou vivendo. Com minhas limitações e o uso o que faço delas para sobreviver neste mundo-cão".



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